A violência sexual é um tema muito sério e de grande incidência ainda nos dias de hoje. Caracteriza-se quando há uso de força (física ou psicológica) para fins de obtenção de prazer sem consentimento da outra pessoa, causando diferentes danos para a saúde em geral, destacando-se: os traumatismos físicos, as doenças sexualmente transmissíveis (DST), a infecção pelo HIV e o risco da gravidez forçada e indesejada, com todas as suas graves consequências.
Ao mesmo tempo, produz intenso impacto emocional e social, comprometendo a qualidade de vida não apenas de quem a sofre, como também de sua família. É inegável que esse tipo de crime acomete, em sua maioria, mulheres, crianças e demais pessoas que apresentam algum tipo de vulnerabilidade física, cognitiva ou emocional.
Ressalto alguns aspectos que merecem atenção em relação ao tema “Violência Sexual”. São eles:
a) o silêncio, o “tabu” e a “escassez” de informações educativas e/ou preventivas nos veículos de comunição, nas escolas e nas comunidades;
b) de tempos em tempos, há notável aumento na circulação de notícias sobre o assunto. Como consequência, pode-se notar o aumento do número de denúncias e o investimento em campanhas de enfrentamento frente a esse crime.
Penso que o tema Violência Sexual permeia nossa sociedade, seja na forma da negação de sua existência ao evitarmos a questão ou pelo contrário, quando algum evento – geralmente midiático – traz à tona todas as angústias individuais e sociais suscitadas por este assunto, tornando-o recorrente.
Os índices nos mostram que este é um tipo de violência que acompanha a sociedade desde que “o mundo é mundo”, não sinalizando qualquer tipo de diminuição. Pelo contrário! Sabe-se que em nosso país os crimes sexuais são subnotificados – ou seja, não entram para as estatísticas!
Meu intuito é abordar de forma breve os impactos emocionais que tal violência acarreta. Contudo vale destacar que frequentemente a violência sexual vem acompanhada de violência física e/ou psicológica.
Inicialmente tendemos a pensar que a pessoa violentada sexualmente ficará traumatizada – como uma sentença.
Porém, é importante pontuar que o sofrimento psíquico que tal crime ocasiona é de certa forma inevitável, tamanho o dano à dignidade sexual e acima de tudo à dignidade humana!
Já o trauma psíquico propriamente dito, ocorre quando a pessoa enfrenta outra dificuldade: não ter pra quem e com quem contar! Portanto, sofrimento é diferente de trauma.
De acordo com o psicanalista Sándor Ferenczi¹, o que de fato traumatiza é o desamparo, ou seja, é o “não poder contar com alguém significativo e confiável”. Este é o momento crucial que definirá se o trauma psicológico irá se instalar ou não, constituindo, assim, uma dupla decepção:
1º) A pessoa em situação de violência geralmente encontra-se fragilizada com a experiência perturbadora e dolorosa a que foi exposta,
2º) Não encontra apoio, seja na figura de uma pessoa de confiança ou de uma Instituição (por exemplo, serviços de saúde, escola ou polícia). Consequentemente, é esta “falta de apoio” que “quebra” sua estrutura psíquica, traumatizando-a.
Normalmente a busca por ajuda “externa” não é tarefa fácil, pois ao olhar ao redor e não encontrar alguém ou algo para se apoiar a persistência para o enfrentamento diminui e com isso a própria pessoa tende a se abandonar.
Os comportamentos mais frequentes nestes casos são:
- Sensação de medo;
- Irritabilidade;
- Ansiedade;
- Distúrbios da memória;
- Pesadelos;
- Desconexão da realidade;
- Humor deprimido, entre outros.
Durante o atendimento psicoterápico, a pessoa que enfrentou a situação de violência ou que está vivenciando algum tipo de abuso, sente-se “autorizada e confiante” para falar sobre o assunto. Neste momento, o psicoterapeuta atento terá papel fundamental ao proporcionar um ambiente seguro, confiável, empático e, principalmente, humanizado a quem anseia dividir suas angústias e, não raramente pela primeira vez, terá a oportunidade de cuidar de suas feridas emocionais.
Por fim, quando por algum motivo o tema “Violência Sexual” ganha destaque, principalmente nos veículos de comunicação, muitas pessoas que em algum momento vivenciaram alguma situação de violência, poderão sentir-se mobilizadas com a temática e, quem sabe, buscarão uma nova oportunidade de enfrentamento e solicitar ajuda.
Priscila Cristina.
Artigo que toca em assuntos delicados e indigestos, mas que nao podem jamais deixar de ser lembrados… Nós profissionais de saúde não podemos mentir para nós mesmos e acreditar que essa realidade é distante. Parabéns pelo alerta esclarecedor!